Saturday, March 3, 2018

TERAPIA E O QUE DECORRER DELA




17h36. Não consigo conectar o som ao computador, queria “Utopia” para escrever. Vou reiniciar a máquina. É uma pena porque os conteúdos da terapia aos poucos se esvaem da minha memória. Mas sinto necessidade de reiniciar a máquina e o farei, talvez até porque queira que os conteúdos se vão da minha memória. Achei essa sessão bem mais legal que a primeira. Acho que estou começando a me aclimatar com Ju e ela ser mais ela e eu ser mais eu. Por mais que agora esteja achando estranho. O que não foi estranho em absoluto. Bem, vou reiniciar.

17h50. Finalmente estou de volta. O computador ainda não carregou o Spotify, mas acho que o som está conectado a ele uma vez mais. Conectou, está tocando “Features Creatures” do “Utopia”. Vou contar pelo que me vier primeiro à cabeça. Falei da sugestão do meu primo urbano de instalar o programa de som no meu computador para que eu brincasse e do meu receio de não compreender o seu funcionamento ou não ter saco para brincar com o programa. De toda forma, disse que levaria o computador para a casa dele na próxima sessão de games para, se ele tiver disponibilidade, instalar o programa para mim. Se não tiver, também não tem problema. Me bateu agora um frio na espinha em saber que pode rolar um próximo encontro na casa do meu primo. Um rápido surto de pânico que já passou. Mas se o encontro fosse hoje, não estaria preparado para ele. Falei da ideia de chamar a minha prima de Natal para umas cervejas na Praça. Ela, pelo que entendo, tem problemas de ordem psicológica semelhante aos meus, não sei se precisamente bipolaridade, mas algo dessa natureza, mas, ao contrário de mim, se aceita completamente e vive plenamente, ou seja, arrumou uma solução oposta à minha para a sua condição existencial. Enquanto eu me privo cada vez mais de viver a vida para além das teclas do meu computador, ela a abraça vorazmente. Seria uma pessoa interessante para interagir e, quem sabe, aprender uma coisa ou outra sobre a vida e a forma de levá-la. Não sei se tenho coragem para fazer tal convite, entretanto. Foi uma ideia que me surgiu na terapia, ou ainda antes, quando soube que ela ficaria no Recife até quarta-feira. Mas essas ideias, da mesma forma que se impõem, se retraem com os rabos entre as pernas, quando me ponho a racionalizá-las. Não sei se o termo é esse, mas a sensação é que cada vez que penso mais sobre a ideia, mais ela se distancia de mim. Isso é mau. De toda sorte só poderei contatá-la quando o meu celular carregar. E o coloquei para carregar quando cheguei da terapia. Vamos ver como enxergo o assunto quando a luz do celular se tornar verde. Saí mais leve da terapia do que quando entrei. Antes de entrar me pus a apreender a bucólica existência, com suas formigas inclusas, que a área externa do espaço terapêutico me apresentava. Mas não vou tratar disso. Acho que a conclusão da terapia foi repensar qual o meu posicionamento em relação a trocas. O momento de receber e o momento de me doar nas relações. Eu exercito muito mais o lado de doar o meu ouvido para receber o que vem do outro, indagando do outro e apreendendo do outro do que me colocando, falando das minhas próprias percepções, ações e experiências. Esse desequilíbrio é uma forma de me esconder, esconder a imensidade do meu fracasso como pessoa, ou o tamanho do fracasso que vejo em mim. Ju não disse isso, intuo isso agora. O que ela me sugeriu foi que talvez eu tivesse lá a minha parte de experiências válidas e interessantes para repartir e que eu devo reparar nessas trocas com o outro. Falou ainda que a postura de observador, que é a posição em que me coloco geralmente nas situações em que me encontro, é uma das muitas posturas válidas que posso assumir. Que talvez seja bom experimentar mais com outras posturas, se eu me sentir confortável nessa experimentação. Não lembro se ela achou válido eu chamar a minha prima para conversar na Praça, mas se é uma iniciativa de socialização e troca que partiu de mim, certamente é válida, tanto quanto é rara. Vamos ver se eu farei esse movimento na existência, mas confesso que acho que não terei coragem. Foi uma ótima para mim o celular estar sem carga. Quando Ju pediu que eu desse uma cara à minha imagem de saída, me vieram duas pessoas do meu círculo social que eu intuo que me acham um ser desprezível. O que nem sei se é verdade. Mas conversamos muito tempo sobre os atributos intimidantes dessas pessoas. Beleza, extroversão, autoconfiança, boa postura social e inteligência foram e são alguns que me surgem no momento. Sei que me disse com inveja de tais atributos. Como deveras tenho e sinto nesse exato momento. Minha mãe chegou e me desconectou completamente do assunto. Falamos de mamãe também. Do meu temor de que sua confusão mental e seus esquecimentos sejam indicação do mal maior, a demência. A ideia me assusta, não saberia cuidar dela. Deposito toda a minha esperança que tais lapsos sejam acarretados pelo remédio que toma. E que tomará por mais uma década. Do que mais tratei na terapia? Da escrita, obviamente, visto que parte maior da minha vida. Eu disse que era mais fácil ouvir que ler e que era mais fácil escrever do que falar. A garota da noite surgiu também como figura idealizada de um namoro. Falei da vontade de escrever uma carta para ela, publicar e mandar-lhe um link. Ju não se manifestou sobre o assunto ou pelo menos não me repreendeu da empreitada. Só disse que não há nenhuma lei instituindo que indicar um filme a uma paquera seja uma abordagem ridícula, como eu julguei que seria depois do comentário gestual da minha amiga filósofa. Que por sinal julgo ser uma boa filósofa, visto que consegue explicar para um leigo pensamentos filosóficos. Só quem entende profundamente do que fala, pode tornar aquilo fácil e compreensível para quem não sabe nada sobre o assunto, como eu. Acho que tal conclusão merecia ser repartida com ela. Não sei se estou viajando, mas me deu vontade de publicar isso no grupo da turma, o meu canal de comunicação com ela. Não sei, nem posso fazê-lo agora porque o celular está carregando. Estou com sudorese nas mãos. Não muito, um pouco. O que mais posso dizer da terapia? Acho que fomos mais entrópicos um com o outro, eu e Ju. Dessa vez, nessa sessão, a vi mais como a Ju de antigamente, a Ju que esperava encontrar e ser tratado por, que na primeira sessão. Saí mais leve e alegre da sessão como da outra vez, com esse adicional de reconhecimento e familiaridade com ela. Acho que fui compreendido e acolhido e me questionei sobre coisas relevantes para mim, coisas que talvez me levem a gradual transformação em um ser mais social. Ou em alguém mais em paz com as minhas escolhas. Ainda bem que ela não trouxe nenhum exercício de arteterapia para eu fazer, acho que diluiria a sessão, pelo menos essa que tivemos. De qualquer forma, mencionei a alusão bastante visual do poço cujo fundo é o isolamento social completo e de estar me segurando nas paredes para não cair de vez, e que vejo na terapia a mão amiga que me fará subir e sair do poço etc. e etc. Esqueci de dizer que me vejo como uma figura infantilizada. Mais essa para o meu rol de fracassos, fracassei também em crescer. Coleciono bonecos, jogo videogames (leia-se Super Mario Odyssey) e não gosto de sexo. Hahaha. Sobre sexo não nos aprofundamos muito, mas há muito o que se trabalhar nesse aspecto. Minha repulsa à penetração precisa ser revista. Minha última experiência foi, novamente a palavra que parece estampar meu ser em todas as suas facetas, um fracasso. Fiquei sem fôlego e sem tesão pela figura porque não tinha um elo afetivo verdadeiro com ela. Disse que gostava das preliminares, mas que o coito em si não me agradava. Que não gostava do meu pau, por mais que seu tamanho esteja dentro da média nacional de nenhuma mulher ter reclamado etc. e etc. Eu vejo o coito como um comportamento bestial, animal, selvagem, bruto, sem requinte, como cagar. E eu não posso ver assim, pois torna-se algo abjeto para mim. Disse que o sexo tornar-se-ia pelo menos possível se evoluísse de um envolvimento afetivo. Incrível como todas as minhas projeções são com a garota da noite. Ela se tornou a protagonista de todas as minhas projeções com o sexo oposto. Ju pontuou que eu fosse uma pessoa diferente das demais. Mas isso não ajudou muito, pois em sendo diferente, fico de mãos abanando. Brinquei até dizendo que talvez eu seja o último romântico dos litorais desse Oceano Atlântico. É um assunto mal resolvido que certamente tomará muito tempo de terapia. Ou não. Quem sabe não encontre um par no meio do processo? Há ainda um ponto fundamental, que toquei na primeira sessão e não toquei nessa, no que tange a construção de tais intimidades, como conciliarei minha escrita, a narrativa da minha vida se tiver alguém tão presente nela? Será que tal pessoa consentiria em ter sua intimidade assim aberta para os olhos do mundo? Como escreveria sem mencionar as vivências que teria com uma namorada? Há um claro conflito aí, pois sei que ninguém é tão exibicionista a esse ponto como eu. Como faria para conciliar as duas coisas? Acho que conseguiria. Alguma fórmula, forma, há de haver. Putz grilo, o que mais temia. A bateria do meu celular carregou. Agora não há nada que me impeça de convidar a minha prima para uma cerveja na Praça e de mandar o elogio para a minha amiga filósofa. Aliás, há algo que me impede, eu mesmo. Vamos ver se depois do frio na barriga que ver o celular carregado me deu, eu assimile o golpe e tome alguma iniciativa.

19h26. Mandei a ideia para o meu primo-irmão, na casa do qual minha prima de Natal está hospedada. Dei o meu pequeno estímulo na existência para a consecução do encontro. Não farei mais que isso. Não tenho coragem de mandar a mensagem para a minha amiga filósofa no momento. Acho que todos do grupo achariam estranho. Sei lá. Não sei mais o que falar da terapia. Trocas com a existência. Eu me sinto egoísta. E quem não é? Como já disse de novo e de novo, acredito que todos estamos aqui com uma única motivação, agradar os nossos egos, seja destilando ódio, comprando um carro do ano ou cuidando de leprosos. Tentamos fazer o que agrada mais o nosso ego e o ego nunca está satisfeito, por isso seguimos em frente tentando saciar o que é insaciável. No meu caso, particularmente, acho que o tenho saciado o mais plenamente possível, por isso às vezes, sou acometido pelo tédio. Acho que o tédio se dá quando não há nada mais a se buscar, quando se está satisfeito, com o ego saciado. Mas o tédio não é uma sensação agradável, então acho que estou equivocado, o tédio é apenas a falta de reconhecimento de que fome o ego tem. O ego deseja mesmo quando não há mais nada a desejar, porque ele é sempre desejoso, somos movidos pelos desejos. Nos submetemos a uma rotina doentia – eu, não, minha rotina doentia é outra, escrever – para satisfazer o desejo de status, de um papel social que possa ser dito de boca cheia ao próximo. Eu morro de vergonha do meu status, mas não trocaria a minha paz escrita pela loucura de trânsito, horários, estresses, frustrações, contas, ansiedades, prazos, metas. A vergonha se apequena diante da enorme carga que é ser um ser humano com status funcional, que contribui para o nosso belo quadro social e tem o direito conquistado de dizer isso de boca cheia. O preço é muito alto pelo status. Prefiro ter o status de fracassado do que sofrer a loucura dos nossos dias. Prefiro a paz do que a guerra por um lugar ao sol, prefiro ficar à margem, à sombra, não nasci para isso, o destino e minhas escolhas me fizeram escritor de uma obra sem a mínima importância para humanidade outra que não a minha. Em suma, eu sou o ser mais egoísta que conheço. Satisfaço o meu ego me dizendo em palavras e me encontro liberado da corrida de ratos que é a sociedade capitalista, da qual só colho o que me agrada. Mas isso não diz tudo de mim. Me falta um pedaço que eu sozinho não satisfaço, o animal, o bicho homem em mim anseia por um par, uma companheira para florescer intimidade e trocar carinhos, talvez eventuais safadezas na cama. Mas estou tão satisfeito por não ser obrigado a mover as engrenagens da sociedade humana que isso se torna secundário. É preciso ter estômago, entretanto, para ser alguém como eu. E muita dedicação. Escrevo uma média de 8 horas por dia, contando os finais de semana, não tiro férias nunca e sou visto pelos que me cercam ou como alguém que deu errado na vida, o bom e velho fracassado, ou como um espertalhão. Em verdade, sou eu mesmo quem me vê como fracassado e espertalhão, independentemente do que os outros acham. E para isso é necessário o tal do estômago. E uma boa terapia. Hahaha. Se eu conseguir me achar alguém válido eu estarei feito. Acho que a terapia tem que agir aí. O que é difícil, pois acho que nesse ponto esbarro nos valores de Ju. Ah, esqueci de mencionar que, ao me distanciar da roda-viva da sociedade, gradativamente me isolo dela e cada vez torna-se mais difícil mergulhar nela. A sensação de alheamento da sociedade, que se torna alienígena aos meus hábitos, é cada vez mais palpável e mais presente. E para isso é preciso ter estômago também. Um estômago bastante forte porque o rebuliço que vai dando nas entranhas a cada novo contato social é mais forte/difícil que o anterior. Mas não vou ficar falando nisso pois senão ativo o meu modo radicalmente antissocial e eu fiz uma sugestão ao meu primo-irmão e minha prima de Natal de nos encontrarmos. Coincidência, no meio da frase anterior meu primo-irmão disse que está no shopping e que minha prima foi ao cinema. Isso quer dizer que já posso ativar o meu modo radicalmente antissocial? Não, porque não quero. Embora esteja nele e não me aperceba, estou trancado no meu quarto-ilha, ouvindo “Utopia” de Björk e escrevendo. Houve uma parte da sessão em que me empolguei e disse, com absoluta sinceridade que a existência é uma experiência fabulosa e rica, caminho por ruas ladeadas por prédios e banhada por veículos que custam somados milhões de dólares, fora as coisas que não se consegue precificar como os seres vivos, das árvores seculares a um “boa tarde” respondido com um sorriso. Não cheguei a esses detalhes, mas disse que achava a existência magnífica e exuberante e complemento que ela tanto mais se afigura dessa forma quanto mais tempo fico enfurnado no meu quarto-ilha tal qual o homem do mito da caverna ao lhe ser revelado a realidade que produz as sombras. Quanto mais isolado fico, tanto mais difícil quanto mais magnífica fica a existência fora do isolamento. As coisas mais miúdas me causam espanto aos sentidos. Como a cor laranja da grade do portão contra o fundo verde do muro recoberto de plantas do outro lado da rua, ambos dourados pelo sol recifense das quatro da tarde, enquanto saboreio um delicioso cigarro ouvindo Depeche Mode no fone de ouvido, o que faz parecer que a música está ecoando por todos os lados e por todo o céu. Sim, a existência é magnífica, basta olhá-la da maneira correta. A cena discorrida poderia ser para muitos reduzida ao fato duro e sem graça de que estava esperando para ser atendido, mas acho essa uma visão muito pobre da situação. Havia, sim, a expectativa de ser atendido por Ju, mas havia muito mais do que isso, e me deixei embriagar por todo o resto, encantado em como a existência é gratuitamente bela. Será que os mendigos a veem? A beleza gratuita dos detalhes? Afinal tudo o que podem ter da vida é aquilo que a existência oferta gratuitamente. Não sei. Tenho profunda identificação e admiração pelos mendigos, são tão alienados da sociedade quanto eu, ou ordens de grandeza mais, eu sou apenas uma anã branca, onde eles são gigantes vermelhas da exclusão social. Mas eu me pego as vezes alienado da condição de ser gente, como acredito muitas vezes que eles também se esqueçam disso. Não, não posso me comparar com mendigos, é completamente injusto com eles. São seres humanos de uma dignidade que me falta. São admiráveis na sua perseverança em existir, de continuar existindo na mais absoluta miséria que, por outro lado, lhes concede a mais absoluta liberdade. Mas acho que não se dão conta disso, infelizmente. Eles, sim, podem ser filósofos. Esqueçam tudo o que falei sobre mendigos, não tenho envergadura de nenhuma qualidade para falar deles. Não os conheço, não privo de suas companhias, nada sei de suas vidas. Conto uma mentira quando falo de mendigos. Eles não merecem isso. Melhor contar do que conheço e sei que são as minhas percepções e experiências da vida na existência tal qual vai dinamicamente se configurando. Não sei se falo ainda de conteúdos da terapia. Só sei que acho mendigos mais dignos que eu. Eles não tiveram muita escolha, eu tive todas as escolhas e escolhi ser vagabundo. Resolvi escrever a minha vida para ninguém ler. Que tipo de vida é esse? Nossa, como celular piscando me incomoda. Vou botá-lo em cima da minha confortável cama. Como posso eu falar de mendigos dormindo numa cama como essa e me sentindo incomodado porque o meu celular de última geração pisca? É patético. Eu sou patético. Ou então sou genial. Não há muito espaço para meios-termos na situação em que me encontro. Eu alcancei a vida que sempre sonhei, tornei-me escritor como me foi revelado da forma mais parecida com uma iluminação divina que eu posso conceber. Que me calou toda a angústia, desespero e repúdio pela vida, substituindo tudo isso por uma clareza de propósito e uma paz de espírito, um alívio inenarrável. Foi como ter descido às trevas para enxergar a luz. Mas já narrei isso tantas vezes, estava rodando em torno de mim mesmo e cheirando cola doidamente dentro da piscina a fim de perder a consciência e morrer afogado quando finalmente perdi a consciência e submergi, a cola que estava na lata escorreu e se espalhou por toda a superfície da piscina. Quando recobrei a consciência, ainda zonzo, fui engolfado pela camada de cola na superfície da piscina, que recobriu o resto do meu corpo ao sair dela. Quando vi a merda que tinha feito na piscina e o meu estado às cinco da manhã de um dia de semana, um ser totalmente desesperado e molhado e coberto de cola da cabeça aos pés, eu pensei, “aonde eu cheguei? O que eu vou fazer da minha vida, estou completamente fodido. Que merda do caralho...” foi aí que me veio a iluminação que me preencheu com uma paz interior imensa, me livrando de toda a angústia que sentia momentos antes. “Eu vou ser escritor! É isso!” Tomado de paz e ânimo renovado, subi do jeito que estava e acordei a minha mãe dando talvez o maior susto da sua vida ao me ver naquele estado deplorável. Disse que queria reunir a família nuclear toda para fazer um comunicado muito importante. Quando enfim todos se reuniram e contei que queria ser escritor, meu pai disse que os únicos escritores brasileiros que ganharam a vida com o que escrevem foram Luís Fernando Veríssimo e Jorge Amado, até Machado de Assis era funcionário público. Bastou essa frase para demolir todo o meu sonho e me reduzir a minha insignificância e depois de uma licença médica, me mandar de novo para o mercado. Obviamente outras crises sucederam-se. Bem, resumo da ópera, meu pai morreu, eu me tornei escritor e, realmente, não ganho um centavo com o que escrevo como ele previu, o que ele não previu é que iriam me achar incapaz de viver sozinho depois de descobrirem que eu quase explodi um andar inteiro ao abrir todas as bocas de gás do meu fogão ligado ao sistema de gás encanado do prédio, numa posterior tentativa de suicídio, e me concederam a curatela em troca de todos os meus direitos civis. Não sou bom mesmo vivendo sozinho. Não gosto da solidão absoluta e de fato. Gosto de estar isolado no quarto-ilha, mas sabendo que existe mais gente na casa ou que tais pessoas vão chegar. Isso me traz um alento muito grande. E me impede de fazer besteiras. Eu sozinho de fato, ao léu no mundo, certamente não conseguiria ficar longe da cola por muito tempo. Nem sei se a cola é realmente um problema tão grande para mim. Não posso me enganar, a cola é um problema grande para mim, basta mencionar a fissura que me torna um psicopata com um objetivo só na vida, obter e consumir cola a qualquer custo, seja o pouco de dignidade que me resta, seja a paz de espírito da minha mãe, seja a minha liberdade. Por falar em liberdade, eu a tenho meio que cerceada e, cada vez mais me importo menos com isso, o que eu acho um movimento doentio, cada vez me curvo mais sobre a escrita, certo de que é minha vocação, conforme me veio do nada naquele momento crítico de desespero absoluto e porque acho extremamente fácil, cômodo e, por vezes, catártico. Só não é clara para mim a finalidade dos meus escritos. Sei que escrevo, na esperança que algo no meio de tanta besteira se salve. Quantidade pode aleatoriamente gerar trechos de qualidade. Hahahaha. O caos está do meu lado. Eu escrevo, de repente nalguma linha, algum corajoso leitor encontre algo que faça sentido para ele ou ela. Você, se é que alguém vai ler esse post. Nunca ninguém chega ao final. Disso eu sei. Já fiz o teste. Por que escrevo, então, se escrevo para ninguém? Bom, porque é minha vocação, acho eu, porque preenche o meu tempo e me faz sentir livre e porque dá sentido a uma vida que de outra forma, não teria sentido nenhum. Filmes não me preenchem, ou qualquer forma passiva de entretenimento chega nem perto da habilidade de criar e recriar a mim mesmo através das palavras. Dizer é bom demais. 21h45. Vou pegar um copo de Coca.

21h49. Falei muito hoje, vixe. A terapia me fez soltar o verbo.

-x-x-x-x-

14h28. Constatei ao reler esse truncado texto que minha autoestima está mais que baixa, está negativa. Me qualifiquei mais de uma vez como fracassado. Estou sem saco para escrever no momento. Meu primo está aí do lado e quer aparentemente jogar Snipperclips aqui comigo. Não estou com vontade. Não estou com vontade de socialização nem de videogame. Mesmo sendo Snipperclips com o meu primo urbano. Não sei por que estou resistente à ideia. Hoje tem missa de um ano da morte do meu avô. Hoje também deveria chegar o meu busto do Hulk, mas ele ainda está em evento de liberação na alfândega de São Paulo, acho que porque não paguei ainda a tributação sobre a peça. Teria que ligar de novo para DHL para me informar. Não estou com coragem para fazer isso. Não por ora. Arre, me sinto prisioneiro da minha própria vida. Vou pegar mais Coca e terminar esse post por aqui. Acho que vou me dedicar ao meu novo projeto paralelo, escrever sete dias da minha vida na tentativa de transformar em um livro. Vou reiniciar o computador para ver se o Bluetooth do computador revive. E já parto para lá. A conclusão desse texto para mim? Que ainda há muita terapia a ser feita. Hahaha.  


Lembrando que para ler mais sobre o meu medíocre cotidiano, é só acessar


Thursday, January 25, 2018

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Meu blog tem muitos nomes, Ermitão Urbanoide, Algo ou Teorias do Fruto da Árvore Envenenada, Crônicas do Meu Cotidano, Jornal do Profeta, O Grande Inútil, O Bonobo etc. Só um desses abriga os meus textos, entretanto. Está no link abaixo.





Por que crio vários endereços de blog direcionando para um blog só? Porque me diverte criar e registrar tais nomes, porque é gratuito, porque eu quero, porque eu inventei os nomes, para me sentir capilarizando o meu conteúdo. Não sei se a parte do capilarizando vai atrair algum hit para o meu blog, mas se você estiver lendo e clicar no link e calhar de ler algumas linhas, é porque pelo menos uma vez funcionou. Obrigado por aportar aqui!

GRACIAS, VALEU, THANK YOU.

TERAPIA E O QUE DECORRER DELA

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